O
lema do segundo governo Dilma parece piada. Coisas da cabeça de João Santana. Os
fatos que vieram a seguir foram totalmente na contramão desse marketing. O
ajuste fiscal cortou R$ 7 bilhões do orçamento do ministério. De fato, gastar mais
não significa gastar melhor. Aliás, em 2012 o Brasil investiu 5,1% do PIB em
educação, mais do que Japão (3,3%), Coréia do Sul (4,5%) e Canadá (4,6%). Mesmo
assim, ficamos na rabeira nas avaliações internacionais de conhecimento (como o
PISA). Portanto é preciso melhorar a eficiência do gasto público. Exemplo: o
governo gasta seis vezes mais no ensino superior do que no infantil.
Outra
coisa: essa ideia de destinar recursos do pré-sal para educação não parece ser
uma boa ideia, pois despesas permanentes não podem ser financiadas com receitas
finitas e voláteis. Um dia a conta vai chegar e não teremos como pagar.
Chamar
Cid Gomes para ocupar o ministério foi sacanagem. Felizmente teve um mandato
relâmpago, o bom senso prevaleceu e agora temos um homem mais qualificado. Boa
sorte para Renato Janine.
Urge
uma reforma profunda na matriz curricular das escolas. Se no ensino
fundamental o jovem estudante brasileiro consegue aplicar os conhecimentos
adquiridos na escola no mundo real, quando chega no ensino médio leva um
choque: abre os livros e se depara com teorias e mais teorias pesadíssimas (equações
quadráticas, genética avançada...), que só serão aplicadas (se é que serão)
quando exercer determinada profissão. A grade é entupida por 12 matérias que
são desenvolvidas sem profundidade, sem discussão. Jovens talentosos são
obrigados a estudar 8, 12 horas por dia para conseguir a aprovação no
vestibular de uma universidade concorrida. Os conhecimentos vivos e úteis são
negligenciados. No ensino superior, a teoria não vem acompanhada da prática.
Interessante o comentário do economista Cláudio de Moura Castro, em sua coluna
na Veja edição 2.185:
“[...]
teoria sem prática interessa tão pouco quanto prática sem teoria. Aprendemos
geometria fazendo levantamentos topográficos do quarteirão. Aprendemos álgebra
lidando com a evolução quantitativa de movimentos históricos. E, quanto mais
modesta a origem dos alunos, mais concretas devem ser as aplicações. Ao fim e
ao cabo desse processo, a boa educação terá ensinado a ver a beleza das ideias
e a acreditar no seu poder.”
O
jovem da periferia, especialmente o preto e pobre, vislumbra quatro perspectivas
para seu futuro: tentar ser jogador de futebol (embalado nos exemplos de
Ronaldinho, Neymar...), ingressar na música (especialmente funk e rap),
aventurar no mundo do crime (seduzido pela ostentação dos traficantes e bandidos)
ou, o caminho mais difícil e menos charmoso deles, terminar os estudos. A
escola desinteressante é a principal responsável pelos altos índices de evasão.
Estudar
não é garantia de emprego e bom salários. Não é garantia de aumento da
produtividade. Porém, é a melhor ferramenta para libertar o potencial
individual e se alcançar a felicidade.
P.S.
Usando a expressão de Sakamoto, em seu blog, “Brasil: A Zoeira Nunca Termina”
seria lema mais apropriado.