"Valorizando pontos de vista diferentes"

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domingo, 17 de maio de 2015

Brasil, Pátria Educadora (?)

O lema do segundo governo Dilma parece piada. Coisas da cabeça de João Santana. Os fatos que vieram a seguir foram totalmente na contramão desse marketing. O ajuste fiscal cortou R$ 7 bilhões do orçamento do ministério. De fato, gastar mais não significa gastar melhor. Aliás, em 2012 o Brasil investiu 5,1% do PIB em educação, mais do que Japão (3,3%), Coréia do Sul (4,5%) e Canadá (4,6%). Mesmo assim, ficamos na rabeira nas avaliações internacionais de conhecimento (como o PISA). Portanto é preciso melhorar a eficiência do gasto público. Exemplo: o governo gasta seis vezes mais no ensino superior do que no infantil.
Outra coisa: essa ideia de destinar recursos do pré-sal para educação não parece ser uma boa ideia, pois despesas permanentes não podem ser financiadas com receitas finitas e voláteis. Um dia a conta vai chegar e não teremos como pagar.
Chamar Cid Gomes para ocupar o ministério foi sacanagem. Felizmente teve um mandato relâmpago, o bom senso prevaleceu e agora temos um homem mais qualificado. Boa sorte para Renato Janine.
Urge uma reforma profunda na matriz curricular das escolas. Se no ensino fundamental o jovem estudante brasileiro consegue aplicar os conhecimentos adquiridos na escola no mundo real, quando chega no ensino médio leva um choque: abre os livros e se depara com teorias e mais teorias pesadíssimas (equações quadráticas, genética avançada...), que só serão aplicadas (se é que serão) quando exercer determinada profissão. A grade é entupida por 12 matérias que são desenvolvidas sem profundidade, sem discussão. Jovens talentosos são obrigados a estudar 8, 12 horas por dia para conseguir a aprovação no vestibular de uma universidade concorrida. Os conhecimentos vivos e úteis são negligenciados. No ensino superior, a teoria não vem acompanhada da prática. Interessante o comentário do economista Cláudio de Moura Castro, em sua coluna na Veja edição 2.185:
“[...] teoria sem prática interessa tão pouco quanto prática sem teoria. Aprendemos geometria fazendo levantamentos topográficos do quarteirão. Aprendemos álgebra lidando com a evolução quantitativa de movimentos históricos. E, quanto mais modesta a origem dos alunos, mais concretas devem ser as aplicações. Ao fim e ao cabo desse processo, a boa educação terá ensinado a ver a beleza das ideias e a acreditar no seu poder.”
O jovem da periferia, especialmente o preto e pobre, vislumbra quatro perspectivas para seu futuro: tentar ser jogador de futebol (embalado nos exemplos de Ronaldinho, Neymar...), ingressar na música (especialmente funk e rap), aventurar no mundo do crime (seduzido pela ostentação dos traficantes e bandidos) ou, o caminho mais difícil e menos charmoso deles, terminar os estudos. A escola desinteressante é a principal responsável pelos altos índices de evasão.
Estudar não é garantia de emprego e bom salários. Não é garantia de aumento da produtividade. Porém, é a melhor ferramenta para libertar o potencial individual e se alcançar a felicidade.


P.S. Usando a expressão de Sakamoto, em seu blog, “Brasil: A Zoeira Nunca Termina” seria lema mais apropriado.

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