Diz
certa piada que em determinado processo seletivo houveram mais de 100 inscritos
para uma vaga em uma empresa qualquer, e para dar início a escolha dos candidatos o assistente do departamento responsável pela seleção levou todos os
currículos impressos para a mesa de seu chefe. Dentre toda aquela montanha de
papéis o chefe retirou apenas 6 currículos fazendo isso de maneira aleatória,
intrigado com o movimento feito o assistente pergunta ao seu chefe o
porque estaria excluindo as 94 pessoas sem ao menos lhe dar a chance de serem
ouvidas ou de terem seus rostos vistos e capacidades testadas, o chefe
respondeu: ”não preciso de gente sem sorte trabalhando para mim”.
Apesar
da história acima se tratar de uma piada ela serve para colocar em xeque algo
que ultimamente vem sendo bastante explorado e cada vez mais exigido por partes
da sociedade, a meritocracia. Eu, em diversos momentos, evitava até mesmo dizer
o tradicional “Boa Sorte” para as pessoas ao meu redor que seriam testadas em
provas ou algo do gênero, já que acreditava piamente que as capacidades da
pessoa iriam se sobressair e se o sucesso não fosse obtido, a culpa do fracasso
seria inteiramente de quem não se dedicou o bastante, se esforçou o bastante,
logo, poderia ser considerado um defensor ferrenho da meritocracia.
De
maneira informal e simplória meritocracia significaria dizer que aqueles que
merecem ter sucesso e aqueles que o têm são aqueles que o merecem. Entretanto,
a vida vai nos ensinando que nem sempre as coisas conspiram para aqueles que se
esforçam mais ou detêm a maior capacidade para alcançar o que chamaríamos de
sucesso. O ganhador do prêmio Nobel de economia em 2002, Daniel Kahneman, tem duas
equações bem particulares sobre a fórmula para se alcançar o sucesso:
Sucesso
= talento + sorte
Grande
sucesso = um pouco mais de talento + muita, muita sorte
A
primeira parcela da equação, talento, alternativamente pode ser compreendida
como as nossas competências e habilidades natas ou desenvolvidas no decorrer de
nossa formação. O que é chamado de sorte pode ser encarado como o simples
acaso, a ajuda divina, a aleatoriedade, a oportunidade, o estar no lugar certo
na hora certa ou como diz o velho ditado: o cavalo passando arreado.
Compreender
que parte do que chamaríamos de sucesso não está atrelado as nossas capacidades
ou ao quanto nos esforçamos e sim ao fato de termos ou não sorte, por termos
nascido em berço de ouro ou em uma simples manjedoura é bastante relevante para
qualquer debate que se possa fazer sobre a legitimidade de vivermos e querermos
adotar uma sociedade baseada na meritocracia.
A
questão colocada não é a de desmerecer a utilização de conceitos como o da
meritocracia, até porque acredito que é um importante método para avaliar competências
e experiências individuais em diversas organizações e situações, mas não faz
mal refletirmos até que ponto ela é valida, até que ponto o alcance do sucesso
é dado pelo resultado de nossos esforços e não pela combinação de eventos que
por algum motivo nos colocam em posição privilegiada, ainda mais para o Brasil,
um país marcado pela intensa desigualdade de oportunidades.
Assim,
se faz necessário repensar certos posicionamentos e reflexões que por vezes
temos e entender que nem sempre o insucesso é advindo da pura e simples falta
de esforço, vagabundagem ou qualquer outro termo.
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